De janeiro a 31 de julho, Cyrela (CYRE3), Lavvi (LAVV3), Eztec (EZTC3), Even (EVEN3), Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3) acumulam ganhos entre +22 % e +38 %, ante cerca de +12 % do Ibovespa no mesmo período (cálculo Inlevor a partir dos preços de fechamento da B3). O movimento ocorre apesar do juro real acima de 9 % e da volatilidade cambial que manteve o dólar entre R$ 5,20 e R$ 5,70 no primeiro semestre.
Três fatores explicam o descolamento:
Resultados operacionais robustos — prévias do 2T25 mostram novo recorde de vendas na maior parte das companhias.
Escassez de terrenos nos eixos mais desejados de São Paulo e das capitais regionais, comprimindo oferta futura.
Aposta em cortes de juros a partir de 2026, que deve reativar a demanda financiada e destravar múltiplos de valuation.
Líder em valor de mercado, a Cyrela acumula mais de 60 % de alta no ano; o papel renovou máxima histórica a R$ 27,02 em meados de julho . A companhia já informou vendas líquidas de R$ 3,26 bilhões no 2T25, salto de 37 % sobre o mesmo período do ano passado, com lançamentos passando de R$ 4 bi . O balanço completo sai em 14 de agosto, após o pregão, seguido de teleconferência na manhã do dia 15. Analistas vão escrutinar a margem bruta para ver se o mix cada vez mais premium continua protegendo rentabilidade mesmo com custos pressionados.
A ação começou 2025 em torno de R$ 7 e já ultrapassa R$ 12, avanço superior a 70 % no intervalo . A prévia do trimestre mostrou lançamentos de R$ 1,2 bilhão e vendas líquidas de R$ 781 milhões, com velocidade de vendas de 22 % em 90 dias . O resultado completo será publicado em 6 de agosto (após o fechamento), com call às 9 h do dia 7 . O mercado quer saber se a empresa manterá a mesma agressividade de lançamentos no segundo semestre, quando o estoque de terrenos na Zona Sul começa a ficar escasso.
Conhecida pelo foco em margens elevadas, a Eztec sobe cerca de 33 % no acumulado do ano . A companhia divulgou sua prévia financeira em julho, apontando vendas de R$ 489 milhões, modestamente abaixo do 2T24, mas com ticket médio maior. O release completo sai em 6 de agosto à noite e o webcast está marcado para 8 de agosto, às 10 h. Investidores acompanharão o repasse de preço em unidades acima de R$ 2 milhões e a evolução do land bank nos principais bairros de alto padrão de São Paulo.
Com forte exposição ao programa Minha Casa Minha Vida, a Direcional anunciou VGV recorde de R$ 1,9 bilhão no 2T25, 111 % acima do trimestre anterior . O balanço será divulgado em 11 de agosto, com conferência na manhã do dia 12, mesma agenda da Even. A tese aqui passa pela combinação de subsídio federal maior, crédito FGTS estável e escala industrial que segura custo por metro quadrado.
Embora o papel não tenha batido o mesmo rali de Lavvi e Cyrela, a construtora também anunciará números no dia 5 de agosto, pós-mercado, devendo detalhar vendas que já somam R$ 2,3 bilhões no trimestre, o maior patamar histórico, segundo sua prévia operacional. A expectativa é de payout generoso – a empresa costuma distribuir mais de 40 % do lucro – algo que agrada gestores de dividendos em um ambiente de juros altos.
A incorporadora paulistana chega à temporada com lançamento concentrado em produtos upper-middle-class e ganhará holofotes em 11 de agosto, dividindo o palco com Direcional. A questão central será a reação das margens ao aumento de custo de material de acabamento, já que a companhia migrou parte do portfólio para unidades acima de R$ 1,5 milhão.
Escassez de terreno urbano bem localizado: o custo da terra continua subindo acima da inflação, sobretudo em bairros próximos ao metrô em São Paulo e Belo Horizonte, o que limita a oferta futura e protege preço de venda.
Segmentação por renda: Cyrela, Lavvi e Eztec capturam a demanda de alto padrão, onde a compra é menos sensível a crédito; Direcional e Cury concentram-se no programa social, hoje beneficiado por subsídios maiores. Essa diversificação de público ajuda a blindar o setor contra choques macroeconômicos.
Expectativa de afrouxamento monetário: o Focus projeta início dos cortes da Selic no primeiro trimestre de 2026, a um ritmo de 50 p.b. por reunião. Cada ponto percentual a menos na taxa básica amplia o poder de compra do mutuário e, por consequência, o valor presente das carteiras de recebíveis.
Disciplina de capital: depois de anos priorizando recompra de ações, Cyrela e Eztec prometem reforçar dividendos caso o fluxo de caixa de obra permaneça robusto; Direcional e Cury já sinalizam payout elevado, enquanto Lavvi tenta equilibrar distribuição com aquisição de novos terrenos.
– Evolução da margem bruta consolidada: qualquer compressão abaixo de dois dígitos em Cyrela ou Eztec pode gerar revisões de lucro.
– Velocidade de vendas (VSO) nas faixas de entrada: se Direcional e Cury mantiverem VSO acima de 20 % ao mês, reforçam a tese de que o novo MCMV continua forte apesar dos juros elevados.
– Política de lançamentos para o 2º semestre: guidance acima de R$ 10 bilhões de VGV somado para as seis companhias sustentaria o argumento de que o estoque segue saudável.
– Sensibilidade a câmbio: um real menos depreciado reduz pressão sobre insumos importados e pode aliviar custos já no 3T25.
Mesmo em ambiente macro adverso, as incorporadoras listadas transformaram a escassez de terrenos, a segmentação por renda e a disciplina financeira em tração de lucro – e o mercado recompensou. A leitura dos resultados de agosto dirá se essa precificação adiantada estava calibrada ou se ainda há espaço para uma segunda pernada de valorização antes de o Banco Central iniciar, de fato, o ciclo de corte de juros.
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